Em 2017, escrevi um dos posts mais acessados deste blog: uma análise dos juros futuros: DI1F19 e DI1F25.
Na época, eu acompanhava de perto cada movimento da curva — e acreditava que ela estava me contando algo sobre o futuro do país.
Oito anos depois, reli aquele texto com outros olhos. Não apenas os do investidor, mas os de quem já viu alguns ciclos começarem e terminarem — e percebeu que o tempo é o melhor professor do mercado.
Neste texto, procuro entender como a curva de juros em 2025 — especialmente os contratos DI1F28 e DI1F33 — revela o novo prêmio de risco do Brasil e o comportamento do mercado futuro.
O que eu via então
Entre 2014 e 2016, o ambiente era de incerteza. O governo perdia força, a inflação subia e o mercado precificava o pior. Ainda assim, comecei a montar posição em títulos públicos — Tesouro IPCA e prefixados — apostando que, em algum momento, os juros voltariam à média.
Não era coragem, era método. Entendia que, em mercados distorcidos, o excesso de pessimismo costuma gerar as melhores oportunidades.
A história confirmou isso.
Com a mudança política em 2016 e o início de um novo ciclo econômico, os juros começaram a cair. Quem havia se posicionado antes, colheu bons frutos de 2017 em diante (até a pandemia). Os títulos longos se valorizaram, os fundos imobiliários reagiram e o investidor paciente foi recompensado.
O post daquele ano refletia exatamente esse momento: um otimismo cauteloso, tecnicamente seria uma regressão à média, mas não era isso que estava focado, mas sim na estratégia.
De 2014 para 2025: o mundo virou
Vale lembrar que, em 2014, o mundo ainda vivia sob juros quase zero e inflação baixa. O dinheiro era barato, e o investidor estrangeiro buscava retorno em mercados emergentes. O Fed mantinha os juros entre 0% e 0,25%, o Banco da Inglaterra próximo de 0,5%, e o Banco Central Europeu trabalhava com taxas negativas. Ou seja, o Brasil, mesmo em crise, ainda pagava um juro real alto e atraía capital.
Em 2025, o cenário global é o oposto.
Os EUA operam com juros em torno de 4%, o Reino Unido também, e a Europa mantém cerca de 2% — níveis impensáveis há uma década. A inflação global segue mais resistente, o custo do dinheiro subiu e os bancos centrais deixaram claro que o “mundo de liquidez infinita” acabou. O investidor internacional não precisa mais correr risco em emergentes para ganhar 5% ao ano. Por isso, o Brasil hoje precisa pagar caro pelo capital: o mesmo DI1F de 7-8 anos que em 2017 apontava otimismo, agora carrega prêmio de desconfiança.
O que vejo agora, em 2025 — curva de juros e DI futuro
Mesmo com um leve fechamento da curva na última semana — muito mais ligado ao alívio global do que a qualquer mudança estrutural no Brasil — o desenho de fundo permanece o mesmo. Os contratos curtos (2027, por ex.) estabilizam entre 13% e 14%, assim como os longos (2033) que continuam no mesmo patamar, reforçando a leitura de congestão.
A curva está praticamente plana — e isso é relevante. Não indica otimismo, mas também não sugere pânico. Apenas que o mercado não comprou nenhum novo cenário, nem positivo nem negativo. Essa lateralidade continua refletindo um ponto central: o país vive um impasse estrutural. O ruído fiscal, o baixo crescimento e a produtividade estagnada limitam qualquer precificação mais agressiva — mesmo quando o humor melhora no curto prazo.
A dívida cresce mais rápido do que o PIB, a produtividade não avança e o ruído político consome energia. O dólar pode até cair, mas o problema é interno. Falta clareza fiscal e sobra desconfiança — e isso se reflete no prêmio de risco embutido em cada vencimento.
Nos contratos curtos, o mercado parece em compasso de espera: não há espaço para grandes cortes de juros, mas também não há pressão para alta imediata. Nos longos, a mensagem é mais dura: o investidor só aceita financiar o Estado brasileiro a oito anos se for bem pago.
O mesmo país que em 2017 precificava esperança, em 2025 cobra prudência.
Como essa leitura se traduz na prática
Minha estratégia continua a mesma — apenas mais madura.
Mantenho metas percentuais de alocação e faço aportes esporádicos, respeitando o equilíbrio entre segurança e oportunidade. Nos títulos públicos, sigo o mesmo princípio de antes: curtos para proteção, longos para convexidade.
Os vencimentos curtos (Tesouro IPCA e prefixado até 2027/28) garantem liquidez e previsibilidade. Os longos (IPCA 2045/50+, prefixado 2031/32) funcionam como opções baratas de longo prazo — o direito de participar do ganho, caso o país volte a inspirar confiança.
A diferença é que, hoje, o tempo do mercado é outro.
Em 2016, o ciclo virou em um ou dois anos. Agora, pode levar o dobro — e tudo bem. A vantagem de não ser trader é justamente essa: não preciso acertar o timing, apenas seguir a estratégia.
Enquanto muitos esperam sinais, sigo ajustando o portfólio, sem pressa. Invista onde quiser, mas mantenha método — essa é a lição.
Os longos continuam sendo minha aposta de que o Brasil ainda pode dar certo; os curtos, meu lembrete de que prudência também rende juros.
Não é uma carteira de apostas, é uma carteira de paciência.
A curva e a vida
Olhar a curva de juros de hoje é quase como olhar o espelho do país.
Em 2017, a linha descia — havia esperança. Em 2025, ela oscila — há dúvida, mas também resistência.
O mercado não está otimista, mas tampouco em pânico. É um Brasil que aprendeu a sobreviver no meio da volatilidade.
Revisitar aquele post de 2017 foi como abrir uma carta que eu mesmo escrevi, sem saber o quanto ainda aprenderia.
A técnica mudou, o cenário mudou, e eu também. Hoje, entendo que investir é menos sobre prever e mais sobre atravessar ciclos. O tempo é a verdadeira taxa de retorno.
Em tempos de incerteza, o mercado paga bem pela tranquilidade de quem não tem pressa.
O novo IPV Beyond Borders
O antigo Investir para Viver agora evoluiu. O blog passou a se chamar IPV Beyond Borders — Finanças, viagens e vida real no Reino Unido e além.
Porque a vida também muda — novos países, novas escolhas, novos aprendizados.
Aqui, o foco continua sendo o mesmo de sempre — entender o valor do tempo — mas ampliado para um contexto global.
Falar de finanças é falar de escolhas; falar de viagens e de vida fora do Brasil é falar de contexto. No fim, tudo se conecta: dinheiro, tempo e propósito.
Abraço!
IPV
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