17 março 2017

A carne é fraca, e a JBndeS, será que é forte?

Buenas, galera! Hoje acordei com uma boa notícia: a Operação Carne Fraca da PF. Surpreso? Não, conheço bem essa turma e o que a imprensa está publicando não é novidade para mim. Sim, tem algumas coisas que talvez não seja bem assim.

Antes de continuar a falar sobre a operação de hoje, gostaria de retornar à dezembro de 2015, quando, na Universidade de Umuarama/PR, foi constatada a presença de formol em carnes da JBndeS. Obviamente a empresa negou e ficou por isso mesmo. Agora, novamente a 'santa' empresa da família Batista Sobrinho está na maracutaia. Sim, não está sozinha, a BRF também figura na bagunça, junto com algumas outras menores, mas não menos culpadas.

http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/exame-laboratorial-encontra-formol-em-lote-de-carne-vendido-no-parana-cdqtai0kc7x22ck50kryx5mv6
Retornando à operação da Polícia Federal, como comentei, não me causa a menor surpresa o que li na imprensa. Já participei de diversos projetos em frigoríficos para aumentar o shelf-life de produtos. Isso não é errado? Não, bem ao contrário! Aumentar a validade de um produto melhorando o processo, usando matérias-primas, ingredientes, aditivos e coadjuvantes corretos e na quantidade segura, é louvável. Entretanto, recuperar carne estragada, maquiar um processo ineficiente, fraudar os produtos economicamente, isso é deplorável.

Agora, três situações que saíram na imprensa me parecem que não são bem assim:

Carne de cabeça em linguiça: em alguns meios de comunicação foi exposto que não se pode usar carne de cabeça em embutidos. Na verdade, a legislação permite o uso de carne de cabeça em embutidos que sejam submetidos a tratamento térmico. Exemplificando, pode-se usar carne de cabeça em linguiça calabresa cozida, mas não pode em linguiça calabresa frescal. Carne de cabeça não são os miolos, e sim as aparas da cabeça após a retirada da máscara (pele + orelhas). Na Itália e na França existe uma iguaria feita com a bochecha suína e bovina.

Ácido Ascórbico é cancerígeno: este é o absurdo dos absurdos, ácido ascórbico e vitamina C são a mesma coisa. É um poderoso antioxidante que previne o escorbuto e é associado à diminuição de radicais livres no nosso organismo, ou seja, é mais provável que combata o câncer, do que provoque.

Um grande defensor da ingestão de Vitamina C foi Linus Pauling (Nobel de Química em 1954 e Nobel da Paz em 1962). Durante quase três décadas ingeriu cerca de 18 g de vitamina C diariamente. Morreu aos 93 anos de câncer, justamente o que ele assegurava que a vitamina C prevenia. Segundo ele, a alta ingestão de ácido ascórbico retardou o aparecimento de câncer, já seus críticos dizem que essa ingestão elevada causou o câncer. De qualquer forma, com 93 anos ele já estava no lucro...

O ácido ascórbico e seus sais são aditivos que não tem limite de uso em produtos cárneos, ou seja, pode-se usar a quantidade que desejar. No entanto, em carnes "in natura", no Brasil, nenhum aditivo é permitido, nem o ácido ascórbico, muito embora, o seu uso como prevenção seria inócuo ao ser humano. Sinceramente, eu acho o termo ácido ascórbico era para encobrir o real produto químico que estavam adicionando - usam-se essas técnicas em frigorífico. O ácido ascórbico até pode recupera um pouco a cor vermelha da carne, mas não faz milagre. Já alguns outros químicos podem ser mais eficazes no mascarar a qualidade da carne como: formol, antibióticos, sulfitos, ácido sórbico e sorbato...

Papelão na Carne Moída, chamada de CMS: primeiro, carne moída e CMS são coisas bem distintas. Aqui acho que existe um mal entendido. Conheço muito bem frigoríficos, e digo que é praticamente impossível colocar papelão no CMS e em qualquer outro produto cárneo. Simplesmente porque não se consegue entrar com papelão na área de produção de qualquer frigorífico (exceto fundo de quintal).

CMS é a sigla para carne mecanicamente separada. A mais comum é a de frango e é obtida através de uma extratora de CMS que, basicamente, é um moedor de carne onde coloca-se os ossos de frango (dorso, ossos de peito e pescoço, principalmente) num bocal; uma rosca sem fim empurra esses ossos e prensa-os contra uma série de 'laminas'; a pressão gerada faz com que a carne passe entre as lâminas e os ossos sigam em frente saindo no bocal. O produto obtido é similar a uma geleia. O vídeo abaixo mostra um frigorífico bem rústico extraindo CMS. A higiene e o processo são péssimos!!!


O CMS só pode ser utilizado em produtos cozidos como Salsicha, Mortadela, Calabresa Cozida, Lanches, Empanados, e outros cozidos. Entretanto existe alguns criminosos que usam em produtos frescos como linguiças, hambúrgueres, carne moída...

Dicas para o mercado, não o de ações: eu tenho algumas manias quando escolho alimentos processados no mercado.

  • Não foco muito na data de validade, mas sim na data de fabricação. Quanto mais novo o produto, melhor
    • Olho também a qualidade do carimbo, pois ter sido adulterado
  • Não compro produtos fatiados ou porcionados pelo supermercado, pois podem re-embalar no final da validade ou já vencidos - vejam o vídeo!
    • Não é culpa do frigorífico pois o mercado recebeu o produto dentro da validade
    • Também não sei se essa prática continua na rede que aparece no vídeo, mas já fiz diversos flagrantes de produtos vencidos em diversas redes de supermercados, nacionais e multinacionais
  • Quando compro carne embalada eu furo a embalagem e avalio o aroma. Se o aroma estiver ácido ou podre não compro
    • No final de semana passado, furei quatro embalagens de peito de frango e todas com cheiro de podre. Paguei um pouco mais caro por uma outra marca que estava com aroma suave e característico
  • Embutido e queijos embalados a vácuo, eu verifico se a embalagem está firme, sem estufamento e se o produto não apresenta líquido solto na embalagem
    • Um pouco de líquido é normal
    • Se o líquido estiver esbranquiçado indica contaminação elevada - não compre!
  • Pão, molho de tomate, pasta de cebola e pasta de alho, normalmente faço em casa - melhor e mais barato!

12 comentários:

  1. Interessante ler essas informações por alguém que conhece o processo. A imprensa aumenta muito mesmo.

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    1. Buenas, EP! A imprensa recebe as informações e vomita as notícias. Entendo o lado deles, o foco é ser o primeiro em informar, então em assuntos técnicos o tempo é curto para buscarem um embasamento.

      No geral, os frigoríficos fizeram picaretagem, mas a real é que temos uma fiscalização falha, corrupta e pouco qualificada. Isso, associado ao bando de criminosos que comandam o setor, resulta nessas fraudes (e em outras que pretendo contar)

      Abraço!

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  2. As fábricas colocam quantidades absurdas de shelf life que nenhuma auditoria capta. É necessário depender do engenheiro alimentar, ou melhor, do analista de qualidade, que muitas vezes recebe contra-ordem do patrão e tem medo de perder o emprego.

    Fora reaproveitar comida podre de todos os jeitos possíveis.

    Tudo bem, você se centrou em alguns preciosismos do que a fake news se concentrou, mas como atuante na indústria podia revelar bem mais...

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    1. Buenas, CF! Sim, conheço praticamente todo o tipo de picaretagem que ocorre em frigoríficos, mas o post ficaria muito longo. Em breve volto a escrever.

      Minha maior dor foi ver o que fizeram com o ácido ascórbico! Agora, acabei de ler uma entrevista com o delator (herói), e ele fala em ácido sórbico e não ascórbico.

      Abraço!

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  3. Obrigado pela explicação IV! Aprendi a definição de CMS aqui.
    Observação: Formol é sacanagem. Deve ser a causa desse tanto de câncer.
    Seguindo!

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    1. Buenas, Einstein! Que bom que o post foi informativo.

      Quanto ao formol, não há comprovações, mas também nunca foram a fundo nas avaliações e fiscalizações.

      Abraço e sucesso!

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  4. Fala IV, será que vale a pena comprar ações da JBS e BRF neste momento ? Pois ambas já não vinham bem e com essa queda, creio que não cairá mais né ? Comprando agora será que em 1 ano não vão se recuperar ?

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    1. Buenas, SP! Eu não sou analista, portanto não posso recomendar nada. Mas, na minha visão gráfica estão em tendencia de baixa e quanto a fundamentos, não gosto de nenhum papel de frigorífico. Não gosto da governança, não gosto das margens e não gosto da alavancagem deles.

      Daqui há um ano, tudo pode acontecer. E se sofrermos embargo às importações? E se as investigações avançarem mais e implicarem fortemente essas empresas? E se tivermos focos de febre aftosa no Brasil? E se esse focos forem nos EUA ou na Europa? E se tivermos surtos de gripe aviária ou doença de Newcastle na ásia, nos EUA ou na Europa? E se ocorrerem no Brasil? E se tivermos febre suína na China como ocorreu há algum tempo atrás? Veja que o setor de carnes é muito suscetível a barreiras sanitária e isso é muito imprevisível. Mais um motivo pelo qual não gosto de operar esses papéis.

      Abraço e sucesso!

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  5. Muito bom, Investir para Viver. Deu uma verdadeira aula sobre frigoríficos.

    Abraços!

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    1. Buenas, MB! É um assunto que conheço bem, aí flui fácil! Quero escrever mais sobre o assunto.

      Abraço e sucesso!

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